O mercado global de cacau enfrenta atualmente uma das suas crises mais significativas, afetando diretamente as economias de países produtores e o custo dos produtos derivados, como o chocolate. Em países como Costa do Marfim e Gana, que juntos produzem quase 60% do cacau mundial, a situação é particularmente grave. As dificuldades incluem a paralisação e redução da capacidade das plantas processadoras devido à incapacidade de compra de grãos, após três anos de colheitas abaixo do esperado e previsões desfavoráveis para o próximo ciclo.
Os efeitos desses desafios são sentidos globalmente, com fabricantes de chocolate já repassando os aumentos de custos para os consumidores. A escalada dos preços do cacau, que mais que dobrou no último ano, atingindo níveis recordes, implica em um agravamento do desequilíbrio entre oferta e demanda. Segundo Steve Wateridge da Tropical Research Services, "é necessária uma destruição massiva da demanda para alcançar o equilíbrio com a destruição da oferta".
No Brasil, essa crise global poderia representar tanto um desafio quanto uma oportunidade. O país, tradicionalmente um produtor significativo de cacau, tem visto uma recuperação nas suas plantações após enfrentar problemas sérios com doenças nos anos 90. A indústria brasileira poderia, teoricamente, expandir sua produção e processamento para aproveitar as lacunas deixadas pelos problemas em países africanos.
O mercado brasileiro tem adotado uma postura mais sustentável e ética em relação à produção de cacau, com uma crescente adoção de práticas de agricultura regenerativa e sustentável. Isso não só melhora a qualidade do produto, como também reforça o compromisso do país com a produção responsável, alinhado com os valores de consumo consciente promovidos por plataformas como a Seiiva.
Portanto, apesar dos desafios presentes, a crise atual do cacau pode ser uma virada de jogo para o Brasil, que tem a oportunidade de destacar-se não apenas como um produtor de volume, mas como um líder em qualidade e ética na produção de cacau.